Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Clóvis Rossi está errado: a esculhambação de agora é genuinamente petista. O PSDB não tem nada a ver com isso

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Uma das razões da falta de limites e de vergonha dos petistas é a condescendência com que o partido é tratado pela imprensa. Na sua coluna de hoje, em que comenta a compra da Brasil Telecom pela Oi, Clóvis Rossi lastima que se esteja, primeiro, fazendo o negócio para, depois, mudar a lei. Vocês conhecem essa crítica. E escreve(íntegra abaixo):
É apenas mais um dos incontáveis exemplos de como o lulo-petismo copia todos os métodos, bons ou ruins, do tucanato. Lembra-se de que, na privatização das teles, os principais operadores foram flagrados em uma gravação dizendo que o governo estava agindo "no limite da irresponsabilidade"?
É razoável dizer que, agora, superou-se o limite com a maior sem-cerimônia. Nem é preciso uma gravação clandestina para comprová-lo.

Escrevi aqui algumas vezes sobre um sestro mental dos tempos da Guerra Fria: alguns jornalistas brasileiros só conseguiam criticar o comunismo se, antes, se ajoelhassem no milho — vale dizer: primeiro o capitalismo apanhava; só então se tinha autorização "moral" para atacar os regimes comunistas. E, ainda assim, sempre se apontava o “desvio”, como se o modelo original fosse bacana...

Rossi faz a mesma coisa. Parece estar criticando o PT, mas, de fato, ele o está protegendo e afagando. Viram só? Petistas não são capazes de cometer as próprias falcatruas. Quando o fazem, estão apenas imitando os métodos tucanos. O corolário é o seguinte: a culpa da bandalheira que está sendo perpetrada no país, de fato, é do PSDB... É de lascar!

Mais: a expressão “no limite da irresponsabilidade” é atribuída a Ricardo Sérgio numa conversa grampeada ilegalmente. SABEM O QUE ELA SIGNIFICA? Nada! Referia-se apenas ao financiamento de bancos oficiais aos consórcios que concorriam para comprar as teles. Sim, pode parecer incrível, MAS NÃO HOUVE UMA MISERÁVEL IRREGULARIDADE NAQUELE LEILÃO.

É mentira! Os petistas, nesse caso, não estão imitando os tucanos nem nos defeitos nem nas virtudes.

O que não faltava à privatização eram regras claras — regras que, diga-se, estão sendo jogadas no lixo por Lula e pelo PT. As ações da Telebras, vendidas, então, por R$ 22 bilhões valiam quase a metade em Bolsa um ano depois. Eis um sinal evidente de que foram vendidas por um valor muito superior àquele que, de fato, tinham. Por que não se diz qual foi a irregularidade da venda? Por que não se diz onde está a falcatrua? A razão é simples: nunca existiu. O que houve, sim, foi a máquina petista em ação para destruir reputações. Vocês sabem como essa gente é decente e moralista, não é mesmo?

O próprio Rossi lembra:
“Para se referir à privatização das teles, Elio Gaspari cunhou a expressão ‘privataria’. Que neologismo usar agora, caro Elio?”
Pois é. Não deixa de ser uma boa pergunta ao Elio, que parece pouco interessado no assunto. A “privataria” é um bom trocadilho, mas é falso como uma nota de R$ 3. Uma “privataria” é feita por “privatas”, que, suspeito, sejam uma espécie de pirata que rouba o bem público. Gaspari faria um imenso favor ao jornalismo e às privatizações se explicasse como é que se pode explicar o “roubo” se o mercado, passado um ano da privatização, atribuía em Bolsa um valor pelas ações muito inferior àquele conseguido em leilão. De fato, o que o governo de então conseguiu foi um ágio espetacular. Isso não é opinião minha, não é chute, não é preconceito ideológico, não é embaixadinha para a torcida. Estou falando de dados materiais.

A privatização das teles, provavelmente a mais exitosa que já se fez na história do capitalismo, completa uma década neste 2008. Foi um exemplo formidável de sucesso e de visão estratégica. Mesmo com uma economia que esteve longe de ser exemplo de expansão na década, o serviço de telefonia se universalizou. Nada cresceu tanto no país — talvez a mistificação. Não obstante, tolices como a acusação de “privataria” deram aos verdadeiros piratas da moral e da ética licença para esbulhar a lei.

Não! Os petistas não estão copiando os tucanos. O que o presidente Lula está prestes a fazer é violentar os marcos legais criados pelo governo FHC. E por que uso o verbo “violentar”? Recorro à frase que cunhei aqui na semana passada: num país decente, as leis regulam os negócios; num indecente, os negócios regulam a leis.

Errado, Clóvis Rossi: o Brasil, sob FHC, privatizou as teles de acordo com a lei. No governo petista, Lula vai fazer uma lei de acordo com o negócio de quem financiou a sua campanha eleitoral e da empresa que se tornou sócia de seu filho.

Isso nada tem de tucano. É genuinamente petista. E fica aqui o desafio para que se prove o contrário.

CLÓVIS ROSSI

O trambique antecede a lei

SÃO PAULO - Há um antigo ditado que ouvi pela primeira vez em Buenos Aires, o que não quer dizer que seja argentino. É o seguinte: "Hecha la ley, hecha la trampa".
Em tradução absolutamente livre, quer dizer: "Faz-se uma lei e imediatamente se faz também a burla a ela".
O Brasil dos tempos que correm aperfeiçoou a malandragem: faz-se a "trampa" antes mesmo de se fazer a lei. Ou, no caso, é modificada a lei para tornar legal a "trampa".
É óbvio que estou me referindo à compra da Brasil Telecom pela Oi (ex-Telemar). A lei vigente proíbe o negócio, mas ele já está tão sacramentado que as ações de ambas as companhias tiveram espetacular valorização nos últimos dias, conforme relato de Fabricio Vieira na Folha de ontem.
Ou seja, há um trambique publicamente em curso, na medida em que a operação é, hoje, ilegal, mas ninguém liga a mínima, porque todo o mundo sabe que o governo vai dar um jeitinho na lei para que a burla deixe de sê-lo. Em qualquer país minimamente sério, uma operação desse gênero provocaria tremendo escândalo.
Em países não tão sérios, seria feita no escurinho. No Brasil, a acomodação da lei aos fatos se dá em plena luz do dia.
E fica por isso mesmo.
É apenas mais um dos incontáveis exemplos de como o lulo-petismo copia todos os métodos, bons ou ruins, do tucanato. Lembra-se de que, na privatização das teles, os principais operadores foram flagrados em uma gravação dizendo que o governo estava agindo "no limite da irresponsabilidade"?
É razoável dizer que, agora, superou-se o limite com a maior sem-cerimônia. Nem é preciso uma gravação clandestina para comprová-lo.
Para se referir à privatização das teles, Elio Gaspari cunhou a expressão "privataria". Que neologismo usar agora, caro Elio?


crossi@uol.com.br

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