Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 26, 2008

Celso Ming Um barulho na escuridão

Em casa com fama de mal-assombrada, qualquer barulho à noite fica assustador. É essa a síndrome que parece estar alimentando o pânico que percorre os mercados.

Ninguém sabe o tamanho da encrenca. Do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, aos analistas principiantes, todos parecem perdidos no diagnóstico. Nessas condições, a palavra recessão virou um monstro infernal, que mete um medo desproporcional à sua capacidade de produzir maldades. E, nesse lusco-fusco, montam-se teorias e prognósticos disparatados.

Como falta clareza sobre as proporções da crise, também não dá para dizer que o pacote de incentivos anunciado quinta-feira pelo presidente Bush será capaz de reverter a paradeira da economia dos Estados Unidos. Mas parece um passo decisivo nessa direção.

Esse pacote tem qualidades e seus pontos frágeis. Ele veio ainda a tempo de mudar alguma coisa, é temporário e tem uma razoável densidade. Como já foi apontado aqui na sexta-feira, a autorização para que as duas maiores empresas de crédito imobiliário dos Estados Unidos, a Fannie Mae e a Freddie Mac, recomprem hipotecas de até US$ 417 mil acima do teto hoje permitido tem potencial para dar liquidez a um mercado onde tudo estava emperrado. Aumentarão as críticas de que essas empresas poderão ficar mais frágeis, mas não dá para desprezar o efeito positivo.

Também não se podem tomar ações isoladas e dizer que elas são insuficientes para virar um jogo que parece perdido. São três as respostas institucionais para enfrentar o monstro ou o que seja. A primeira delas é o conjunto de decisões tomadas pelo Fed. É tanto a pancada no corte dos juros anunciada inesperadamente terça-feira como a instalação dos tubos de transfusão direta de recursos para os bancos.

A segunda é o pacote fiscal. E a terceira é o avançado processo de recapitalização dos grandes bancos americanos que estavam entalados nas operações de financiamento de crédito hipotecário de alto risco (subprime).

Essas três iniciativas vêm levando pedradas de todas as direções. Estão dizendo que o aumento das despesas públicas queimará mais consumo, que a solução dos problemas de fundo está sendo adiada e que a sociedade está pagando pelas mazelas do mercado financeiro americano. Já dizem, também, que a tesourada nos juros, além de subverter as funções de um banco central, ajudará a formar novas bolhas. E os próprios bancos estão sendo criticados por expor fatias do seu capital ao jogo dos fundos soberanos que operam com motivações suspeitas.

No entanto, ninguém quer resolver nenhum problema de longo prazo. Quer apenas apagar o incêndio para cuidar do sofá da sala depois que a fumaça acabar.

De todo modo, certo ou errado, desta vez há determinação em fazer alguma coisa, em vez de ficar à espera de que a mão invisível distribua contas a pagar entre os perdedores. Se haverá ou não sucesso nessa empreitada, deve ficar mais claro em algumas semanas.

Em todo o caso, dá para apostar em que a recessão americana, caso se confirme, seja mais branda do que tantos temiam, por puro desconhecimento da assombração que lhes vinha aparecendo.

Arquivo do blog